Uma M. perdida na ponta da ilha

A minha última caminhada foi até à Ponta de São Lourenço. Uma canseira, principalmente porque o G. achou que era perfeitamente possível fazê-lo duas vezes na mesma semana. No primeiro dia cheguei a casa e não descolei mais do sofá. Na segunda vez achámos que éramos capazes de – depois de um dia de nove quilómetros de caminhada e uma tarde de praia, no Faial – vestir a nossa roupita mais jeitosa de arraial e irmos até ao Seixal beber umas cervejas e comer um pão com chouriço e manteiga d’alho. Resultado: quatro da manhã estávamos de volta às nossas caminhas. Todos estragadinhos, claro está.

Acerca do percurso. Começámos na Baía D’Abra e fomos até ao fim, à dita Ponta de São Lourenço. No regresso passámos pelo Cais do Sardinha, uma pequena praia a meio dos vales com água transparente. Nadámos com os peixes e foi um momento bom para descomprimir e não pensar no que ainda tinha para andar. O pior desta vereda são as subidas e descidas e ser uma zona muito seca, sendo, portanto, natural sentir imensa sede. No meu registo visual ficaram a imponência das paisagens – arrepiantes – e as duas praias que se podem vislumbrar de cima e que são de fácil acesso.

Recomendo. O nível de dificuldade é médio, mas não é nada que não se faça em segurança. Roupa confortável. Ténis. Muita água. Biquíni. Merenda. Máquina fotográfica. E depois é só ir, desfrutar e ficar fã.

A M.

Primeira praia.

Segunda praia. Cais do Sardinha.

Fim do percurso. Lá ao fundo o Ilhéu do Farol.

Imagem: google

Imagem: google

O rei dos amores pequeninos

Nunca tinha experimentado a sensação que é receber um novo membro na família, nem nunca pude acompanhar o crescimento de alguém assim tão de perto. O rei dos amores pequeninos foi o melhor presente de dois mil e onze. Alegria garantida. Gargalhadas constantes. Maluqueiras com direito a gritinhos histéricos e corridas desengonçadas. Pézinhos descalços a bater no chão desenham a marca do tamanho vinte e dois por toda a casa. Amor a toda a hora, em todos os gestos, em todas as palavras, em todos os olhares marotos que parecem compreender tudo. Graças a ele estou a ter um estágio privilegiado – daqueles que a remuneração é paga com guerras de beijinhos -, com direito a acompanhar todos os baby steps mês após mês. Cada semana uma novidade diferente, e mais um “oh que amor” desta tia derretida que mais parece um queijo camembert. Juro a pés juntos, não preciso de cruzar os dedos porque não é mentira nenhuma, que a relação tia-sobrinho é enternecedora. Por não ter tido irmãos mais novos, nunca pude mudar as fraldas a ninguém, nem dar a papa. Entretinha-me com as bonecas, mas não era a mesma coisa. O tempo das bonecas foi o pré-estágio. Levava aquilo muito a sério. Depois tive a fase em que falava com as plantas e ensinava-lhes o que aprendia na escola. Há quem invente amigos imaginários, eu sempre gostei de olhar para quem estou a falar – apesar de não parecer, logo agora que tenho um blogue.  Adiante. Agora, este é um estágio com direito a interacção, a beijinhos jogados para o ar e a queridas apertadinhas. O S. é o melhor rabinho de fraldas do mundo. Uma criança pode mesmo revolucionar uma casa. Entre fraldas, toalhitas, bolachinhas, iogurtes, piscina insuflável, baldinho, pá, regador, sapos, chucha, passeios, conversas, beijinhos e soninhos de pulga se faz o dia de uma criança. Quando estiverem tristes experimentem cuidar de uma criança. Para além de terapêutico (ok, também é cansativo, eles têm mais pedalada que nós) é uma lufada de boas energias. E depois, só dão aquilo que recebem. Eles são felizes e não conhecem a palavra tristeza, são a imagem daquilo que já fomos. E é bom ficar a olhar para ele e pensar que também era muito feliz quando a minha mão ainda não chegava ao balcão onde estão as bolachas, nem que me pusesse em bicos de pés.

A M.

Fragmentos de um dia feliz. Parte III

Resta deixar aqui um cheirinho daquilo que se comeu no dia treze. A melhor parte, diga-se. Estava maravilhoso e eu, se pudesse, comia disto todos os dias. O Armazém do Sal foi o restaurante que escolhi e foi de longe a melhor opção. Era mesmo o que eu queria, um espaço intimista e comida à Top Chef. Os sabores eram incríveis, ligavam muito bem entre si. Comi pato com pêra bêbeda e puré de batata, com mil condimentos à mistura.  Depois houve quem se atirasse para o frango recheado com um queijo brutal e espinafres, acompanhado com uma massinha de comer e chorar por mais. Um deles comeu o risotto de bacalhau e caviar e risotto com uma posta de atum e legumes. Quanto às sobremesas esqueci-me de as fotografar. Uma pena. Comi um suspiro de frutos dos bosques com uma mousse de banana e tinha também um vulcão de chocolate e gelado de côco com umas fatias fininhas de ananás. Claro, isto tudo traduzido para o mais comum dos mortais é assim, porque na ementa aquilo vinha tudo pipi com nomes elegantes. Mas foi giro brincar aos crescidos. Depois ainda houve tempo para ir até ao The Vine beber um mojito e uma amêndoa amarga com sumo de limão, gelo e quatro grãos de café, e aproveitar a melhor vista sobre o Funchal. Foi um amor de dia. Obrigada aos que partilharam estes momentos comigo. No próximo ano estão convidados!

A M.

Coisas de meninas

Ando há quase uma semana sem pintar as unhas, parece que estou doente. Depois da overdose de verde água que dei às unhas, as pequenas suplicam por descanso durante um tempo indeterminado. Mas isto assim não pode continuar. Amanhã voltamos à normalidade. Na verdade, isto de andar na praia e fazer caminhadas muito longas, chegar a casa e sentir os músculos todos doridos não é compatível com a rotina diária feminina, embora seja apologista de que se deve estar sempre no trinques em qualquer altura, em qualquer lugar. O pior é que não ter verniz para mim é como estar despida. É como não lavar o cabelo todos os dias. São fragilidades femininas. Coisas de meninas. Manias. Cuidados. Chamem-lhe o que quiserem. Costumo até ser prática, mas há pormenores que não consigo evitar e a culpa é da minha irmã que sempre me incitou a tratar das unhas. Umas mãos arranjadinhas fazem toda a diferença.

Sexta-feira há mais voluntariado e o fim-de-semana promete ser agitado. Dois dias de festa em São Vicente e isso exige um tratamento de beleza completo. Portanto, basicamente, o processo vai ser mais ou menos assim. É preciso pouco para parecer princesa quando já se é.

A M.

Coisas que nos fazem bem

Como disse, aqui, há uns dias um dos meus objectivos neste Verão era fazer voluntariado e depois do que se passou por cá essa vontade disparou. Inscrevi-me e fui. Custou-me levantar da cama, ainda mais por ter dormido três horas nessa noite, mas já tinha dito que ia – e como a inércia chateia-me profundamente -, não podia falhar ao compromisso. Estivemos numa zona lindíssima do Fanal e a tarefa parecia simples, embora não fosse assim tão fácil. Tínhamos de apanhar sementes de urze. A tarefa parece ingrata porque encher o saco é muito difícil, pois são sementes muito leves e pequenas, não rende. Mas como éramos cerca de quarenta pessoas deu para enchermos uns quantos sacos pretos e o sentimento de missão cumprida esteve presente no final. Agora seguem para a estação de tratamento no Jardim Botânico. Resta preparar as sementes para procedermos à reflorestação de algumas zonas afectadas pelos incêndios. Para além desta acção social ser compensadora a nível pessoal, conhecem-se pessoas especiais que também vivem com um sentido de responsabilidade social para além do que lhes é exigido. Não me custou nada e quero repetir a experiência. Para casa levei o coração cheio e uns arranhões nas pernas.

A M.

Fotografias: Direcção Regional de Florestas – Madeira

Os três.

Hoje é dia de festa e o dress code é fato e gravata. Por isso, vistam-se a rigor e batam essas palmas com muita pujança porque hoje o pequeno baby faz três meses. Podem caprichar que eu hoje estou por tudo.

Pois é, esta minha última tentativa de criar uma espécie de amor incondicional por um espaço virtual está mesmo a resultar. Yes! Nunca pensei que tivesse pachorra e tanto para dizer. Das outras vezes que tentei não durou tanto. Também há amores assim. Mas desta vez foi diferente. Esmerei-me tanto que até pedi que me fizessem uma coisinha original para colocar no cabeçalho. Ficou um mimo, mesmo à minha medida. E, pronto, posso dizer que até agora o balanço é positivo e que nunca pensei na vida que aquilo que eu escrevo aqui, dentro das minhas quatro paredes, numa ilha a meio do nada, pudesse chegar a toda a parte do mundo em tão pouco tempo. Obrigada por terem paciência e gastarem uns minutos do vosso precioso tempo a ler estes monólogos que podiam estar agora fechados numa gaveta. Mil obrigadas! Espreitem só o meu motivo de orgulho.

Ipaaaaaaaaa, que fixe, não é?

Próximo desafio é conquistar o que resta do mundo, depois é ir até ao infinito e mais além.

Para além disso, o Mais de Mil Coisas está no FbRank – Ranking de Páginas Portuguesas no Facebook.

Só boas notícias!

A M.

Fragmentos de um dia feliz. Parte II

Há dias descobrimos uma praia bem calminha entre a Ponta do Sol e a Madalena do Mar. Como lá não há nenhuma indicação, fui pesquisar e ao que parece chama-se praia dos Anjos. Faz jus ao nome. Esta praia prima pela tranquilidade. Água a rondar os vinte e três graus, mais coisa menos coisa. Fácil acesso. Longe das enchentes. Sem gente a gritar e com música aos berros (muito importante!). E com muito calhau à escolha para estender a toalha. Para mim é perfeito. A praia é mais um sítio para descansar, se tiver muita agitação já não sabe igual. Ali somos só nós e o barulho do mar a bater nas pedras. Para além disso, está quase sempre sol nesta zona. Como já é costume, a treze de Agosto vou sempre a banhos e este ano fui cumprir a tradição. É uma chatice fazer anos no Verão!

A M.

Fragmentos de um dia feliz. Parte I

Tcharãaaaaaa! Eu disse que ia meter as mãos na massa. Só não imaginei que ia fazer tanto sucesso. Basicamente toda a gente comeu e chorou por mais. Este ano decidi impressionar e fazer saber que no número dezanove da Dr. João Abel de Freitas moram umas belas mãos de fada. A menina quis mostrar os dotes e dar a achega do “está pronta para casar e ser mãe de um punhado de filhos”. Toda uma conversa fiada que para aqui vai. Pronto, resumindo fiz uma tarte de limão e decorei com maracujás de verdade. Sim, são de verdade, não são tipo aquela polpa enlatada. Foram apanhados no quintal e vieram directamente parar à minha super tarte que serviu para soprar as velinhas. É super simples de fazer e como fiz anos mas aqui quem dá as prendas sou eu, fica aqui a minha receita.

Anotem tudo!!!

  • Para a base usei dois pacotes de bolacha Maria. Numa panela juntei a bolacha já triturada e manteiga. Fui adicionando a manteiga até achar que estava toda unida e húmida. Depois espalhei na forma até ficar tudo uniforme.
  • Depois precisei de dois pacotes de natas bem geladas, quatro folhas de gelatina, uma leite condensado magro e o sumo de cinco limões. Bati bem as natas, juntei o sumo dos limões, adicionei meia lata de leite condensado (porque não gosto que fique muito doce) e, por último, derreti as folhas de gelatina com um bocadinho de água e juntei. Tudo bem batido. Espalhei em cima da base de bolacha até ficar uniforme.
  • Por fim, juntei a polpa dos maracujás de verdade. Deitei uns quinze, uns mais pequenos que outros, mas a intenção era deixar o topo a abarrotar. Já decorei com raspas de casca de limão e chocolate preto, mas fica a vosso critério!
  • Colocar no frigorífico de um dia para outro.

Experimentem! É fácil, rápido e barato.

A M.

Vinte e quatro

Vinte e quatro anos de vida. Vinte e quatro anos felizes, com alguns dias tristes pelo caminho. Repletos de gratidão. Cheios de vida e de sorrisos rasgados. Vinte e quatro anos se passaram e este é o dia em que posso agora contabilizar as perdas e as pequenas conquistas. Dou por mim a pensar que nem sempre foi fácil ser eu. Nem sempre foi fácil aceitar o que tinha de ser. Nem sempre foi fácil perceber que era urgente ser forte em determinados momentos. Nem sempre foi fácil pedir desculpa. Nem sempre foi fácil aceitar que alguns pedidos de desculpa nunca vão acontecer. Nem sempre foi fácil dizer adeus. Nem sempre foi fácil fazer de conta que não estava triste. Nem sempre tive o colo que desejei. Nem sempre pude apagar as velas rodeada de quem mais gosto. Também sei que em alguns casos isso nunca mais vai ser possível nesta vida. Não me lembro da última vez que soprámos as velas juntas, mas não faz mal. Já foi há tanto tempo que até parece que já foi noutra vida. Tenho saudades tuas. Todos os dias. Espero que estejas orgulhosa de mim. Estou crescida e sinto-me cada vez mais bonita por fora e por dentro. Eu sei que gostavas dos meus cabelos loiros e que tinhas medo que eu ficasse ruiva. Ando a usar aquele shampoo que me compravas. Ainda não tenho cabelos brancos. Pus aparelho e daqui a dois anos vou estar ainda mais princesa. Mas isso tu já sabes… Obrigada por cuidares de mim todos os dias. Parabéns a ti e só depois a mim.

A M.

Eu Gosto é do Verão #2

Anteontem à tarde não sabíamos para onde ir. O Funchal estava com um aspecto muito acinzentado e eu já me sentia a definhar. Bolas, era o quarto dia em que a história se repetia. Sol de manhã e nuvens à tarde com um cheirinho a orvalho. Nem era tarde, nem era cedo. Pegámos no carro e fomos à procura do sol, nem que para isso fosse preciso andar uma hora de carro. Decidimos que o caminho era para Oeste e andámos, andámos, túnel atrás de túnel. Curvas e rotundas e azelhices na estrada e mais uns alhos e bugalhos. Do cinzento escuro passámos ao cinzento clarinho até ao branquinho. A cada quilómetro que passava parecia que estava a percorrer a minha caixa de lápis de cor que usava na primária. Do preto ao azul clarinho e cada vez menos nuvens. Depois do túnel do Jardim do Mar fez-se luz literalmente, foi como se alguém tivesse ido ao céu afastar aqueles bocados de algodão gigantes para um canto. O humor mudou num abrir e fechar de olhos. SOL. SOL. SOL. O Paúl do Mar nunca desilude. Aqui dá sol até às nove da noite. Os meus pés quase que estalavam dentro das All Star. É o que dá ter todas as estações do ano numa só ilha. Foi chegar, abancar e o resto foi assim…

P.s.: Tirei estas fotografias à socapa mas prometo que na próxima vez hei-de caprichar mais. O espaço é mesmo giro! E é a atracção do momento dos surfistas, amantes de reggae e dos peace & loves destas vidas. Eu nem sou dada a estas coisas –  tirando o peace&love e o eu quero é estar na minha e não me favem o miolo -, mas acho o conceito giro e diferente para quem gosta de fugir dos sítios rotineiros.

A M.